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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Relatos de Jipeiros: Vendi o Jeep! (por Eraldo Cardoso)

Vendi o Jeep!


por Eraldo Cardoso Santana

 Hoje é que me dei conta de como é bonito meu armário de cozinha, branquinho , com um tampão preto ônix de granito. As coisas de casa cabem certinho dentro dele, as panelas da Madame, os talheres nas gavetas, os potes de conservas. Tudo bonito, lustroso.

 E a minha sala, espaçosa, com um lindo jogo de sofá em couro, aparador no canto, uma pintura em grafiato na parede, um show de ambiente, aparelho de CD estilizado, com um sonzinho ambiente maneiro, ligth.

 O quarto tipo suite com banheira de hidromassagem e uma vista maravilhosa para o quintal faz par com o closet espaçoso, parecendo ainda maior do que realmente é.

 Não poderia deixar de falar dos outros dois quartos, mas vou logo para a sala de TV e vídeo onde meu home theater reina soberano, sendo o xodó de todos que convivem comigo. Nele eu assisto em dvd as trilhas que fiz, os Jeep cross que participei, o Rally dos Sertões com um som Dolby estéreo Surround de primeira qualidade, ah como é bom poder trilhar, aliás era, o bom agora é sentar no sofá da sala de Vídeo e ficar relembrando os tempos passados e gravados em mídia digital.

Tem um lugar onde minha assistente doméstica é quem dá as ordens, a área de serviço com máquina de lavar, tanquinho, secadora, e o escambal. Prá que elas querem tantos apetrechos se não tem mais roupa suja de lama, botas incrustadas de barro, marca de óleo nas camisas, mil e uma camisetas de encontros, trilhas, Jeep cross, calças com mil e um bolsos cheias de carrapicho?

 Não sei, só sei que é assim que se vive em uma casa nova.

 Mas acima de tudo lá está ela , imponente, em um local de destaque da casa: minha oficina-garagem construída especialmente para receber você meu amigo, meu companheiro de aventuras, fiz uma pintura radical baseado em você ultrapassando todos os obstáculos, ficou lindo poder ver sua figura estampada na parede, ver onde eu colocaria os jogos de pneus, as ferramentas, as bancadas, o piso especial para poder receber seu eterno vazamento, as marcas de pneu frontiera iguais a pés de galinha marcando a cerâmica de uma ponta à outra ás vezes cheio de barro, outras lavado, polido e lubrificado, mas sempre lá, em sua toca, em seu repouso.

 Mas hoje seu lugar está tomado por coisas inservíveis, virou depósito de bagulho, de coisas que só entulham minha vida, das quais só me fazem ter más lembranças...

 Tudo bem, mas o que tudo isso tem a ver com Jeep? Você me pergunta. Eu te digo: - Meu fiel companheiro se foi, não tenho mais aquele que eu tanto mexi, adaptei, soldei, cortei, fiz SPOA, coloquei pneus Mud, macaco hi-lifty, quebra mato, rádios PX, PY, GPS e tudo o que sempre desejei.

 Depois de tanto carinho e cumplicidade eu tive que vender meu Jeep , parece brincadeira, mas não é, tive que entregar as chaves daquele que só eu dirigia, aliás nem dirigia, ele é quem me levava para onde queria. Eu apenas girava a chave e dava vida ao valente Jeep que me enchia de orgulho ao passar garboso pelos obstáculos nas trilhas.

 Obstáculos, muitos obstáculos em minha vida eu não consegui transpor e como ela está sempre exigindo prioridades, tive que me render ao capitalismo e me desfazer de meus sonhos, ou de meus delírios vibrantes quando aparecia algo novo para se fazer no Jeep.

 Casa, faculdades, casamento, filhos, viagens, negócios sempre há algo que em um momento ou outro exige que se tenha algo para se dispor e utilizar o recurso em prol do que é mais urgente e neste caso, meu bom e velho amigo Jeep foi a bola da vez.

 Foi embora, levando consigo parte da minha alegria, mas cabe um alento, sempre poderei vê-lo fazendo a alegria de um outro amigo jipeiro. Talvez pudesse até exagerar um pouco dizendo que parte de mim se foi, mas não, essa parte minha de ser jipeiro permanece, ainda vive e sempre será o impulso para que um dia eu volte a sonhar com um novo amigo que com certeza virá.

 Vender o Jeep não significa necessariamente vender sua alma Jipeira. Afinal, no fim de tudo ainda pode-se ser Co-piloto.



Zequinha nunca (risos)
 
Por Eraldo Cardoso Santana(Jipenet-BSB)

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