AMIGOS 4x4
"Estou no “olho do furacão” desde quarta-feira, quando subi junto a outros amigos jipeiros levando o Márcio (PY1MNC) e o equipamento para levar a estação que foi a única comunicação durante três dias entre Friburgo e Rio de Janeiro, até que a repetidora de Friburgo, do GRANF (grupo de radioamadores de Friburgo), em 145.350 voltasse a funcionar. Ocorre que quando chegamos a Friburgo, na quarta-feira à noite, tínhamos acesso a todas as informações e aos responsáveis pelos trabalhos de resgate, principalmente o Cel. Robadei e o Robson da DC de Friburgo. A cidade estava sem luz e devastada, com muita lama nas ruas e muita água ainda descendo das encostas, e jantamos no batalhão dos bombeiros, para então subir para a Caledônia e montar a estação. A subida, apesar de ser de paralelepípedo, estava encharcada e com muita lama descendo as encostas, além de crateras perigosíssimas. Neste ponto o Marcinho, jipeiro de Friburgo que nos deu todo apoio inclusive nos acolhendo na sua casa, foi fundamental, verificando o caminho em sua moto na frente do comboio.
Na quinta-feira conseguimos chegar ao hospital da Unimed para levar diesel para o gerador; o caminho estava, como a maioria das ruas de Friburgo, tomado de lama, pedras, crateras e postes caídos. Como o único caminho possível era por estradas de terra enlameadas, com subídas íngremes e cheias de erosão, se não fôssemos nós, de jipe, provalvelmente aquele gerador teria parado.
Sexta feira nos dirigimos à DC quando chegamos, no início da noite, e fomos instruídos pelo Cel. Robadei a comparecer pela manhã para a distribuição de tarefas. No sábado, após os jipes terem sido carregados numa secretaria de Frigurgo, partimos para o local indicado pela Defesa Civil, Macaé de Cima. Até então, tínhamos informações de que a estrada Muri / Lumiar estava bloqueada em alguns pontos, mas mesmo assim resolvemos proceder por ela. Além disso tabém haviam dito que Galdinópolis estava numa situação bem grave.
Verificamos que havia sim queda de barreiras naquela estrada, mas dava para passar, em meio a muita lama e destruição. Seguimos então por Galdinópolis, e verficamos que felizmente as informações não procediam, pois estava tudo bem na localidade, com o único incoveniente de falta de luz. Seguimos então até Rio Bonito de Cima, sempre parando e perguntando se tudo estava bem, se precisavam de algo; como as respostas eram sempre positivas, chegamos a Rio Bonito de Cima, estivemos com a Dédé (Pouso da Perereca) e felizmente a encontramos bem, mas também sem luz – aliás, quase toda a cidade de Friburgo está sem luz.
Como naquela região notadamente não havia necessidade de nossa presença, seguimos então para São José do Ribeirão, passando por Lumiar e S Pedro da Serra, para checar as reais condições, já que também havia relatos de que aquelas localidades passariam por dificuldades; mas de novo, felizmente, as informações não procediam, e estava tudo bem em Lumiar e S Pedro da Serra.
Já em S José do Ribeirão a situação era crítica: a localidade apresentava um cenário de destruição completa, tendo o rio subido muito naquele local e destruído grande quantidade de residências; centenas de moradores estavam abrigados numa pequena escola pública em um local mais alto, onde o rio não chegara. Ainda não havia chegado nenhum donativo naquele local, e ficamos todos muito emocionados ao ver o alívio daquelas pessoas quando chegamos com água e comida. Descarregamos tudo o que havíamos levado e retornamos ao centro para comer no único lugar aberto em Friburgo, e logo após, já muito cansados, rumamos para pernoitar na casa do Marcinho.
Até sábado, como disse no início desta mensagem, nosso contato era direto com os responsáveis pelos trabalhos. Como solicitado, domingo pela manhã estávamos nós no novo QG da DC, agora na fábrica Ypu. Ao chegarmos à fábrica, nos deparamos com uma grande confusão: um monte de voluntários sem saber o que fazer, uma porta fechada guarnecida com “autoridades” de todo o tipo, desde guardas municipais de Friburgo até, pasmem, pessoas com coletes de operação Lei Seca! Então passamos de prestadores de serviços de emergência a palhaços, e parecia que estávamos pedindo um grande favor de nos fornecerem mantimentos (e uma enorme quantidade desses mantimentos foi providenciada por nossos companheiros jipeiros!) para levarmos para necessitados. Por sorte o Marcinho estava sempre conosco, e usou seus conhecimentos para que “permitissem” a entrada de nossos jipes para carregarmos donativos.
Com os jipes carregados, partimos com o Cláudio, que é de Friburgo, para as comunidades determinadas pela DC. Eram locais distantes, cruzamos Friburgo totalmente engarrafada, e chegamos a um morro, mas com ruas pavimentadas e casas muito razoáveis. Ficamos todos decepcionados ao perceber que nos haviam mandado a um local onde qualquer veículo chegaria, inclusive encotramos um caminhão descarregando mantimentos no mesmo local para o qual fomos designados. Seguimos um morador da localidade em sua moto, que nos indicaria locais ainda desabastecidos, mas percebemos que não havia grandes problemas onde estivemos. Ainda tentamos chegar ao cume deste morro, onde supostamente havia muita gente sem alimentos, já que ninguém havia conseguido chegar lá por causa da lama, e finalmente pensamos que realmente utilizaríamos nossos equipamentos para ajudar; ao começar o caminho enlameado, encontramos uma guarnição dos bombeiros que nos deu ordem para retornar imediatamente, já que o barranco onde eles estavam trabalhando poderia ruir a qualquer momento, e claro que a ordem foi prontamente obedecida.
Descarregamos o que tínhamos naquela comunidade, e decidimos que nosso trabalho em Friburgo havia terminado, e que retornaríamos ao Rio. Passamos na DC para comunicar o fim de nossoas atividades, mas ao chegar uma família nos pediu ajuda, pedindo para resgatar um casal de idosos num local onde apenas jipes passariam. Prontamente formamos um comboio e partimos para a localidade, bem longe do centro, mas tivemos outra decepção ao perceber que servimos apenas como táxis de luxo, ou seja, um jipe com os membros da tal família, comboioado por outros seis, apenas para chegar a um local totalmente pavimentado onde havia inclusive um carro de passeio da própria família. Cansados de rodar a toa por Friburgo e fazer papel de bobos, informei pelo rádio ao Carlindo que estava desativando a NUDEC 4x4 em Friburgo e tomamos a RJ 116 em direção a nossas casas. Ainda pegamos um baita engarrafamento entre Itaboraí Duques, esquecemos que aquela estrada fica entupida aos domingos por causa da volta da região dos Lagos...
Enfim, provamos que a união das forças de rádioamadores e jipeiros é de fundamental importância nesses momentos, e tenho certeza de que todos que participamos de operações em Friburgo estamos chocados com o cenário de destruição e tristeza que presenciamos, mas com o orgulho de termos colocado nossos equipamentos e disposição a serviço do bem comum, e conseguimos minorar o sofrimento e alguns problemas de parte da população atingida pela catástrofe.
Agradeço a todos pelo apoio que foi dado à NUDEC 4x4 coordenada por mim, e peço desculpas por um tratamento frio em algumas situações, mas nos momentos de maior tensão, nos quais tinha que atender rádioamadores que me solicitavam e buscavam informações sobre os locais pelos quais passávamos e mais PX e celulares (quando funcionavam), tinha que ser um tanto quanto ríspido em minhas palavras."
Tenho certeza de que estaremos sempre a postos para situações deste tipo. Valeu, meus amigos.
Amplexos,
Long Live Rock´n Roll
Assim Falou Mau
Willys CJ-5 1960 - Tortinho
Toyota Hilux CD 1993 - Phoenix
JIPENET/RJ - EM BUSCA DO MAU CAMINHO
PX1 K 9502 / LABRE 75186
Parabens a vc´s, tb tive problemas para ajudar em Tere já que a DC e os militares nao se entendiam, mais valeu !
ResponderExcluirQuantos serviços mais vocês poderiam ter prestado àquela gente realmente isolada, não fosse a incompetência de uns poucos...
ResponderExcluirParabéns a todos vocês, jipeiros corajosos e com espírito humanitário...